Aventuras pelo desconhecido: o que não sabemos que ignoramos

Se você quer deixar de ser burro, é bom conhecer o efeito Dunning-Kruger: somos incompetentes na hora de avaliar a nossa própria incompetência. Acabei de conhecê-lo, e confesso que era completamente ignorante no assunto.

Num grande resumo, o que os dois pesquisadores (Dunning e Kruger, dã) dizem é que o seu talento para avaliar o que está fazendo é o mesmo para fazer. David Dunning diz:

But when you’re incompetent, the skills you need to produce a right answer are exactly the skills you need to recognize what a right answer is.  In logical reasoning, in parenting, in management, problem solving, the skills you use to produce the right answer are exactly the same skills you use to evaluate the answer.

Ou seja: um cérebro idiota é incapaz de saber que é idiota, do mesmo jeito que um gato não consegue ser auto-contemplativo, ou que uma planta não sabe que é planta. Parece óbvio para você que tem três neurônios, mas eu ignorava isso completamente até ler a coisa.

Por exemplo, uma pessoa que escreve mal é incapaz de saber a diferença entre um bom e um mau texto. Se fosse capaz de diferenciar, também seria capaz de escrever. Isso torna a grande maioria dos críticos incompetente, né?

Ou, explicado com laranjas por um dos comediantes mais inteligentes de todos os tempos:

Anosognosia – a incrível capacidade de não ver um problema óbvio

Todo mundo já ouviu: “porque a animação Flash não se mexe quando eu imprimo?” ou “não dá pra contratar um estagiário que saiba construir uma Mars Lander por 200 dinheiros em 20 minutos?”. Por que as bestas quadradas capazes de escrever isso não conseguem ter a noção de que estão dizendo besteiras absurdas?

Bulo - você é muito bulo

Bulo – você é muito bulo

Isso me lembra uma questão filosófica que li há séculos no Mundo de Sofia: o universo explodiu, evoluiu, criou vida, a vida criou consciência e então, pela primeira vez, o próprio universo era capaz de contemplar a si mesmo e saber que o estava contemplando. Looping. Claro, nem todas as pessoas são capazes de completar o círculo. Existem pedras, salsinhas, plantas e tudo o mais.

Mas, além de dizerem burradas cósmicas, essas pessoas são incapazes de saber que estão dizendo uma burrada cósmica. Ou seja, por serem burros são incapazes de se saberem burros.

Agnosognosia é o nome científico para essa incapacidade de ver a própria incapacidade, e cria o grande dilema que vai divertir cérebros esta tarde.

“Uma pessoa estúpida é a que trata um inteligente como se fosse estúpido”

Identificou-se? É, todos nós vivemos isso, com relação a alguma forma de conhecimento. Foi twittando esta frase que Errol Morris descobriu este efeito bizarro de auto-engano e começou a série de artigos.

Lembram da história do rei nu? O rei é incapaz de saber-se errado, e muita gente não tem a coragem de dizer-lhe à cara. Só uma criança, inocente, o diz. Para este post, o personagem mais interessante é o rei: ele é incapaz de se ver tolo. Acha-se inteligente, até mais que os outros. É preciso um feedback externo para tirá-lo dessa ilusão.

A estupidez quando quer mudar o mundo

A estupidez quando quer mudar o mundo

O ser humano é idiota

Todo mundo já viu Idiocracy. Se não, veja. É do Mike Judge, do Beavis & Butt-head, então é um filme inteligente. A história nos lembra o tempo todo que estamos cercados de pessoas burras, e que nem sempre Deus é suficientemente magnânimo a ponto de esmagá-los com a ponta dos dedos, ou exterminar aquelas pessoas que são aparentemente normais, mas não conseguem superar a sua profunda ignorância. Pensem no chefe do Dilbert, ou naquela besta quadrada que cagou a arte-final do seu último trabalho: eles não sabem que são incompetentes, ignorantes ou burros. O cérebro deles é burro demais para reconhecer a burrice. E o pior de tudo: a natureza permite que esta ignorância viva:

“Well, no. Evolution just makes sure we’re not blithering idiots. But, we could be idiots in a lot of different ways and still make it through the day.” – David Dunning

Como saber se estou me comportando como um idiota?

Os especialistas consultados pelo Errol Morris concordam: é necessário um feedback exterior. Que outras pessoas digam, que a resposta alheia influa no seu raciocínio. Quando todo mundo diz que você não é um gênio, é porque realmente não é. O problema é que a maioria das pessoas também está iludida ou é incapaz de reconhecer aquela genialidade específica. Ou seja, se o seu chefe diz que você é burro, e ele é um conhecido ignorante, provavelmente o burro é ele mesmo. Se Picasso diz que Fulano é um grande pintor, provavelmente ele é mais capaz de reconhecer do que um ignorante qualquer.

Em publicidade, isso acontece muito na área da criação: o reconhecimento dos melhores cria novos melhores, mas ser reconhecido e/ou elogiado por pessoas sem talento, mesmo que muitas, não vale nada.

Até que chegue alguém mais genial que todo mundo e diga que todos nós estamos errados. Aí lasca de vez, e todos ficamos sem saber o que fazer.

0 Comments on “Aventuras pelo desconhecido: o que não sabemos que ignoramos”

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.