Desista. E faça isso rápido.

“There is no try. Either you do or you don’t”.
– Yoda.

Se você acha que deve desistir, desista.

Se acha que não vai conseguir, desista.

Se não aguenta a frustração de ficar horas na frente do computador pensando na mesma coisa, desista.

Se não tem paciência para esperar a ideia morder a isca, desista.

Se não gosta de pescar ideias, desista.

Se quer ir pra casa cedo, cumprir prazos, não se angustiar, desista.

Se acha que o bom é o suficiente, se acha que ser a melhor da classe, do bairro ou da cidade é suficeinte, se acha que fazer tudo o que pode é suficiente, se acha que o suficiente é suficente, então desista. Suficiente é pouco. Suficiente é merda. Nós trabalhamos para encontrar o genial.

A maioria das pessoas não tem força de vontade suficiente para dar com a cara no muro da negação, escutar que o esforço de horas foi em vão, recomeçar do zero com humildade e pensar mais. A maioria das pessoas não aguenta escutar a palavra não 10 mil vezes. A maioria das pessoas é como as crianças: quando escutam críticas, recusas, comentários, ficam amuadas. Choram. Sentem-se atingidas no mais importante que temos: o ego. A maioria das pessoas precisa ouvir elogios. Escutar que podem. Nesta profissão, entretanto, raríssimas vezes você vai escutar isso. Se você é incapaz de aguentar a pressão, desista.

Se você quiser aprovação, desista. Esta profissão é pra quem escuta não o tempo todo. Pra quem está acostumado a ser o feio da escola, apaixonado pela menina bonita, e levar o fora todos os dias. E todo dia tentar de novo. Se você é a menina bonita do colégio, que tem tudo na mão e não aguenta ficar no canto, sem nenhuma ideia lhe tirar para dançar, desista. Ninguém vai pegar a sua mão e ensinar a escrever, a desenhar, a ter ideias, a solucionar problemas. Vão criticar, xingar, diminuir e menosprezar. Se você quer carinho, volte pro maternal. Ligue para a sua mãe. E desista de conseguir isso por aqui.

Se você acha que os livros têm a resposta, que alguém vai ensinar a ter ideias novas, a fórmula para transformar chumbo em ouro deve existir, desista. Se houver um segredo, eu não conheço. E se conhecesse, seria rico, mas não contava pra ninguém. E todo mundo faria a mesma coisa. Se você acha que o mundo é cor-de-rosa e tudo é fácil, desista. Aqui neste inferno, não.

Desista logo. Não perca o seu tempo. O seu sucesso não vai chegar como você quer, fácil e doce, no seu colo, como um presente de natal. Quer saber porquê?

Nós não devemos mentir para nós mesmos. Portanto, economize o seu tempo e seja sincera: você realmente quer sofrer tanto? Não queira. Desista. Trilhe o caminho mais fácil. O mundo tem bastante lugar para pessoas que cumprem a sua obrigação, cumprem os horários, fazem tudo certo e como manda o manual. Faça um concurso público. É difícil passar, mas depois estará tudo seguro, certo e resolvido.

Você não quer suar sangue, não quer perder a sua juventude, a sua beleza, o seu tempo, a sua energia e a sua alegria lutando contra pessoas obcecadas e apaixonadas pelo que fazem. Você só quer fazer o seu trabalho. Então desista deste, e procure um que não vá sugar a sua alma.

Porque você não tem nenhuma paixão pela busca de ideias novas. E é muito difícil dedicar uma vida às ideias sem paixão. Desista.

Se você concordou com qualquer linha deste texto, ele lhe é dedicado. Se não concordou com nada, abra um arquivo novo e vá pensar. Porque você nasceu pra isso.

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22 Comments on “Desista. E faça isso rápido.”

  1. Muito foda. Espero um dia ver esse texto circulando pelos e-mails como se fosse do Jabor ou do Veríssimo. E isso é um elogio.

  2. vou assinar como algum publicitário famoso e mandar pro email de todo mundo, pra ver se viro um meme. 😀

  3. A única coisa chata é que realmente há pessoas que precisam desistir. Ou então colar este texto na parede e ouvir Janis Joplin:
    http://blip.fm/profile/tarrask/blip/3130372

    Mas falando sério. É muito foda ouvir um não, ouvir que tá ruim, ouvir que o esforço não foi suficiente, mas a gente escuta isso todo dia, e quase sempre tá certo.

    Just don’t shoot the messenger.

  4. relendo o texto…

    já teve a sensação de se agarrar a uma coisa que você não sabe direito o que é e de engolir o choro e não desistir nem com a porra?
    não é bom.

  5. Não me leve a mal, mas acho que esse é o problema na publicidade: não a publicidade em si, mas essa ideia de achar que trabalhar com isso nos torna melhores, mais inteligentes, mais fortes, mais importantes do que as outras pessoas que trabalham com outras coisas. Só porque alguém passou em concurso público não significa que seja pior que a gente. Só porque alguém é cobrador de ônibus, ou secretária, ou vendedor de shopping, ou caixa de banco, não signifique que seja pior que a gente. Desistir de trabalhar com criação publicitária não é nenhum demérito. Ainda mais quando esse meio está tão cheio de gente com mais ego do que com ideias. E é isso que cansa. Mas para sobreviver nessa profissão, tem que ser muito cheio de si – pelo menos é o que vejo em cada agência por onde passo. Não consigo engolir isso de que trabalhar com publicidade seja especial, e de quem não é apaixonado – apaixonado de morrer e matar por isso – deva desistir. É uma carreira como qualquer outra, mas que precisou ser pintada desse jeito para que um cidadão consiga sobreviver a ela. E mais: que ele queira a todo custo, mesmo a custo da sua felicidade, qualidade de vida e sanidade, não desistir. Porque ninguém quer ser fraco. E essa é uma ótima oportunidade pra quem realmente ganha dinheiro com isso, né? Criar essa atmosfera de “seja foda ou desista”, “seja apaixonado ou caia fora” para que a gente dê o máximo de nós, e muitas vezes, muito mais que isso, só pra não ser o fraco da história que caiu fora porque “não aguentou”. Seu texto é ótimo, mas é texto de dono de agência. Aquele cara que quer te inspirar, e por que não, te aterrorizar. Pintar você como um perdedor se você não der o que ele tanto quer: ideias. Prêmios. Dinheiro. Enfim, é essa merda toda que me cansa. Desculpe usar um texto seu para fazer esse desabafo. Mas dessa profissão, que não aceita nada menos que a minha vida, a minha alma, e o meu amor incondicional (!), eu desisto mesmo.

    1. Estranho. Você começou discordando de mim, depois concordou, depois discordou de novo.

      Acho que só quem é realmente apaixonado por publicidade deveria trabalhar com criação. Porque propaganda é uma merda. Não paga rios de dinheiro, não te dá bom karma, não te faz uma pessoa melhor que nenhuma outra profissão (ao contrário de várias outras. Acho que alguém que educa crianças é muito mais importante que eu e pronto, sem discussão).

      Como eu disse, lá no meio do texto: “Nós não devemos mentir para nós mesmos. Portanto, economize o seu tempo e seja sincera: você realmente quer sofrer tanto? Não queira. Desista. Trilhe o caminho mais fácil. O mundo tem bastante lugar para pessoas que cumprem a sua obrigação, cumprem os horários, fazem tudo certo e como manda o manual. Faça um concurso público. É difícil passar, mas depois estará tudo seguro, certo e resolvido.

      Você não quer suar sangue, não quer perder a sua juventude, a sua beleza, o seu tempo, a sua energia e a sua alegria lutando contra pessoas obcecadas e apaixonadas pelo que fazem. Você só quer fazer o seu trabalho. Então desista deste, e procure um que não vá sugar a sua alma.”

      Fazer publicidade É masoquismo. E se você não gosta de sofrer, desista. Não há pote de ouro no fim do túnel, Aline.

    1. Não conhecia o texto do Davi, Rodrigo.

      O problema de motivação em publicidade é esse mesmo, e deve ser relembrado sempre.

      E acho megafoda você ressuscitar um texto do multiply. Nem lembrava mais do site. 🙂

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