Se fosse necessário se definir para alguém, como você faria? Que imagem sua você pintaria?
“Tentar se definir é como tentar morder seus dentes”. [frase vista aqui através daqui]
Usar nossa percepção para dar forma à própria pessoa que está percebendo é um trabalho que não produz resultados confiáveis. Só a dificuldade em descrever o fenômeno poderia servir de pista pra suas falhas.
É o mesmo trabalho de uma mulher que se prepara pra sair sem um espelho. A produção vai ser um desastre, muito distante do esperado. No mínimo a maquiagem vai ficar borrada e a calcinha vai ficar marcando.
Nós precisamos da percepção dos outros para nos definir.
Nós somos principalmente o que os outros acham de nós. As pessoas com quem convivemos funcionam são os espelhos onde nos descobrimos. É através do olhar deles que identificamos nossas características, confirmamos nossas virtudes e descobrimos nossos defeitos.
Para não deixar nossa prática dissonante de nosso discurso, precisamos estar atentos e abertos pra perceber o reflexo que causamos nos outros.
Não adianta apenas ter acesso a um espelho, precisamos querer usá-lo.
Em alguns momentos, o amor ao nosso umbigo [às histórias que criamos sobre nós mesmos] impede que aceitemos o julgamento dos outros.
É o caso daquela pessoa orgulhosa que passa a noite inteira discursando sobre como é humilde. Nossa vontade de ser algo não é o que nos define. Ao contrário, esses desejos só atrapalham nossa avaliação.
Se nos fechamos ao olhar alheio, seja nos escondendo atás de máscaras ou rejeitando a avaliação de terceiros, passamos a viver num mundo sem espelhos. Nossas fantasias e delírios passam a definir quem somos, nos tornando pessoas incoerentes e alvos fáceis para chacota.
Não há nada mais desesperançoso do que alguém que acha que o mundo inteiro está errado, e que só ele está certo.
7 Comments on “Mordendo Seus Dentes”
E como a gente sabe se o olhar alheio não é distorcido? Tem que encontrar alguém que a gente ache normal, e então entrar num loop infinito, não?
My brain hurts.
O olhar do outro é menos distorcido que o nosso quando é sobre a nossa imagem, mas é mais distorcido que o nosso quando é sobre a imagem dele próprio.
O gráfico de uma relação deve ser algo como a rosca de um parafuso, ao invés de um loop! 😀
Meu céreblo também dói.
Pobre Bonifácil, já virou presa de zumbis! 😀
Existe também um problema muito interessante pelo qual eu passo com frequência que é, simplesmente, quando a “pessoa que eu acho normal” e que eu tomo como base de crítica tá, literalmente, PUTA comigo e começa a despejar críticas infundadas/distorcidas ou, pior ainda, desconstrutivas.
PS.: Desconstrutiva é uma palavra que, pode até não existir, mas é um conceito muito perigoso no meu ponto de vista. E desconstruir a personalidade de outra pessoa é uma coisa não muito incomum de se ver em relacionamentos por aí..
É por isso que é complicado viver baseado nas suas próprias opiniões, e também perigoso viver baseado na opinião alheia.
Uma média ponderada seria perfeito. O problema é aprender a calcular.
Thiago,
Se a pessoa ta PUTA com você ela é um espelho distorcido, não serve pra você definir sua imagem.
Resolver esse problema de saber em que momento escutar qual pessoa, é um dos dilemas que deixam a vida amarga.
Se fosse fácil, não existiriam pessoas perturbadas como Tarrask ou Bonifácil! 😀