“Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar. É ele quem me carrega como nem fosse levar.” Paulinho da Viola
Tem gente que passa a vida buscando raízes, origens, um lugar pra construir uma casa. Tem gente que é de Terra, que quer segurança, senão dança.
Há uns seis anos, fiz uma das maiores partidas da minha vida. Deixei o porto do Recife e ancorei numa cidade sem mar. Não foi a primeira grande mudança da minha vida (teve também Paraíba, Brasília, a volta pra Paraíba, a ida para Pernambuco), nem foi meu último porto. De Madri, vim para Barcelona, e em breve a âncora subirá de novo.
Ninguém sabe o que vai acontecer. Prometo tentar fazer a viagem mais interessante possível, e que vai ser divertido.
Você não pode chegar num novo porto sem deixar um antigo para trás
A primeira vez que eu joguei o tarô, veio uma carta que me dizia isso. Tinha um barco desenhado, e desde então eu pensava em tatuar a imagem do cinco de copas. Minha interpretação da carta, ok, mas se for pra marcar o meu couro, prefiro uma interpretação pessoal.
Ontem eu fui no estúdio de Joana Catot e ela me tatuou o barco com as cinco copas, desenhado por Cristina Santos. O resultado é do jeito das coisas bonitas da vida: dolorido e maravilhoso.
Mas tatuagem é permanente? E no dia que você resolver ancorar?
A tatuagem muda. Agora está cicatrizando, depois o barco navega. Quando eu mexo o braço, o mar estica um pouco, alongando o caminho. Fica aí, pra lembrar que a gente nunca para, nem precisa parar o tempo todo. O importante é saber a hora de ancorar e a hora de jogar as velas, a hora de procurar terra e a hora de se jogar na água em busca de outros mares para navegar.
Vamos embora como os Argonautas de Camões.
Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Próteo são cortadas