O amor de uma vida
Madri é linda, exótica, caliente, tem sangue latino, anda rebolando. Sabe que tem um decote feito para matar. De cara e de longe não é surpreendente, tem uma franja estranha que cobre os olhos misteriosos de gata. Porém, se você chegar muito perto, ela dá olé.
É a medida de todos os amores: todas serão comparadas com ela. É mais bonita que Madri? É mais gostosa? Será que alguma outra pode me fazer tão feliz? A vida de quem dorme com Madri passa a ser dividida entre antes e depois daquela noite. Uma mancha na alma, uma mudança de personalidade, uma experiência divina, um encontro com o inefável.
Madri tem o poder de roubar a sua alma.
Ela é agressiva e carinhosa. Violenta e compassiva. Dura e delicada. Indiferente, mesmo ao se entregar por completo.
É uma mulher de extremos. Madri é dona do próprio nariz e machista, cheia de energia às 4 da manhã, preguiçosa às três da tarde, insuportável no verão e te esquenta no inverno. Tem vergonha de se mostrar e se exibir, mas quando você chega em Malasaña, conhece a vida em todo o seu explendor e vê as estrelas que nunca estão no céu.
Ela é jovem. Sempre será jovem, mesmo idosa e vestida de chulapa. Sabe que a vida é curta, é preciso dança-la e bebê-la. Sabe que a cultura só tem sentido se for discutida num bar de tapas.
Ela é dura com as pedras das casas. Quando está magoada, não dá nem um pingo de atenção, nunca deixará transparecer uma gota de dor ou pena. O coração mole e terno fica escondido para as boas horas.
E em segundos Madri transforma raiva em carinhos.
A mulher Madri não se exibe para todos. Só para os que ela quer conquistar. Um pobre diabo pode passar anos ao seu redor, tentando entender o quê ela tem, por quê tantos se perderam bêbados por suas ruas curvas, ofegantes por suas subidas e descidas à noite, se ela nem parece ser isso tudo. Os bêbados passaram as noites certas com Madri. Destas noites, às vezes escapamos ou perdemos, mas não é possível esquecer.
Quem tem um caso de amor com uma Madri nunca esquece. Pode se divorciar, casar com outra, ter filhos e netos, mas sempre vai lembrar de tardes quentes e cervejas frias.
Este post é uma continuação da série de posts sobre cidades. O primeiro foi Paris.