Sexo e as cidades: Recife

Posted by tarrask on December 28, 2013 · 2 mins read

A Recife é suja, de areia de praia, de lama e caldo de caranguejo. Valoriza o malfeito, o desleixo e o deseducado. É cultura roots. É união de coisas diferentes demais, brasis demais, um turbilhão de sentimentos e paradoxos. Recém-saída da adolescência, ainda está se descobrindo. E derrama a sua beleza pro mundo.

Uma flor que nasceu no mangue para suar o sal da praia

Quer pisar na terra e citar Foucalt, ser Suassuna e holandesa, com a pele mulata, marca de biquini, perna grossa e peito pequeno. Fala dos problemas do mundo com um copo americano de cerveja na mão. Gatinha cultural do burburinho, sonha com ser Europa, com ser sofisticada. Tem ânsia de conhecimento. Recife é menina, até quando é avó.

Recife se entrega com paixão nos braços do mulato que dança capoeira, cai no papo do jornalista cultural com a mesma desenvoltura que sonha com um príncipe encantado, neto de senhor de engenho e sobrenome de quatro sílabas.

Beija com furor, mas olha pra vida dos outros com recato. Nega até a morte. Para a sociedade é uma dama, lady, quase virgem, uva que a raposa só desfruta depois de casar. Mas com aquele rebolado sapeca, cabra, que eu sei que quando se solta, ninguém segura. Bote a mão na cabeça e segure o juízo.

Sonha com flores do campo, uma casa caiada de cerquinha branca, dois filhos loirinhos. Isso, ou um carnaval em Olinda, passando o rodo geral. É a mulher de vestidinho, sapato baixo, bronzeada, com curvas e faróis acesos ao céu aberto mais linda do mundo. Só quer ser ela mesma, ou Audrey Hepburn, ou um passista de Maracatu, ou uma cachoeira. Qualquer coisa ou quase tudo. Recife quer. Quer muito e quer demais. É querência demais pra um só coração que ninguém aplaca, nem cordel nem canção.

Recife é o completo choque paradoxal da existência.

Este post é uma continuação da série de posts sobre cidades. O primeiro foi Paris e o segundo, Madri.

UPDATE: Graças à Cinthia, o texto está um pouco mais de acordo com a Nova Ortografia. Os outros erros são meus mesmo.