Black mirror e a bola de cristal

Eu consigo imaginar a vida de uma pessoa na Roma Antiga me baseando em como viviam as pessoas no interior da Paraíba quando eu era jovem.

Ainda que alguma tecnologia estivesse disponível (rádio, parabólica, remédios e antibióticos), a vida era bem parecida: fundamentada na sazonalidade do ano, nos ciclos da natureza e no trabalho braçal. A riqueza era medida em terra, posse de objetos físicos e força bruta.

Hoje o campo está mudado. Máquinas fazem mais e mais trabalhos, são cada vez mais complexas e independentes. Técnicas de produção e cultivo mudam comportamentos e resultados.

Então, da cidade nem se pode medir. Um romano ou mesmo meu avô seria incapaz de funcionar na civilização moderna sem uma grande carga de preparação e formação.

Ou ainda pior. Alguém que passou 10 anos em coma não é capaz de entender o estado da arte da tecnologia. A sensação é que a mudança está cada vez mais rápida. Logarítmica. Parece a cotação do bitcoin (no momento em que escrevo, 15 mil dólares).

Somos outra espécie? O fogo mudou a humanidade. Está registrado como mito fundador de praticamente toda civilização (Prometeu é só o mito mais famoso). A escrita possibilitou outra transformação absurda. Agora temos uma espécie parcial de teletransporte e de conhecimento absoluto.

Igual que o fogo, o software é uma arma. O fogo serve para iluminar, cozinhar, queimar ou incendiar. O software, para facilitar, complicar, enganar ou trapacear. E as vezes ficar fora do ar.

Será que daqui a 50, 100 anos, a humanidade alcança um novo platô, um nível estável de evolução, ou vai continuar mudando diariamente?