Cogito cogito ergo cogito sum

Toda potência tem duas ações.

Cada uma destas, suas reações.

Sempre que uma vontade decide,

A múltipla realidade se divide.

– Do livro de St. Mordred, 7-47

Eu ando pensando na inocência cruel das crianças. Naquele mito maravilhoso que toda criança é criativa, livre, meio louca, cheia de insights geniais, e que a educação nos transforma em robôs capitalistas cinzentos e miseráveis. Rousseau e Ken Robinson tendo um filho mental.

Como todas as teorias para explicar o mundo, não passa de uma teoria para explicar o mundo. Cercada de negacionistas por todos os lados.

As crianças, os poetas e os loucos não sabem mais do que as pessoas ditas normais. Nem menos. Não são portadores de uma verdade secreta que se revela pela obscura linguagem dos signos ocultos nos insights da brincadeira. É o adulto que vê a poesia no que a criança fala. Esta imita algo que já ouviu, ou faz uma confusão porque está mais próxima do estado natural de confusão que é nascer.

Nós, adultos, é que escolhemos se vamos usar as informações que temos para restringir ou para libertar ideias. Como qualquer escolha que fazemos, podemos escolher um caminho, e obrigatoriamente aguentaremos as consequências. E seguimos tempo afora, bem sozinhos, levando esses doces e amargos, secos e molhados, até que o tempo não seja mais.

A capacidade da razão é como qualquer outra capacidade: a força, o dinheiro, a coerção. Pode e é usada por quem a tem: gatos não possuem razão, mas coagem com a mirada crápula que aprenderam de seus ancestrais. Tigres usam da força para matarem a presa e alimentar a família, ou para proteger os filhotes de predadores.

Só nós, alguns humanos – porque nem todos, e nem sempre – é que usamos a razão para refletir se alguma escolha é boa ou má, porque prevemos – ou tentamos – as consequências.

E se tem uma coisa que a história ensina é que nós não aprendemos direito a prever consequências, porque se isso fosse possível, a história não se repetiria tanto.

O hábito – já diria o ex-padre – é o fim da razão.


Este texto faz parte da blogagem coletiva Estação Blogagem, que a Aline Valek organizou com a Gabi Barbosa, com o tema Tarô: cada semana de novembro será regido por um naipe que vai inspirar a produção dos textos. Para saber a programação e participar, leia o primeiro texto aqui.

Banner da estação blogagem, com o estilo visual de um app antigo de windows 3.11, e o texto do parágrafo anterior.