Dos limites da projeção astral

De vez em quando eu me pego pensando. Talvez seja da idade, ou do meu feitio mesmo, mas é muito frequente eu estar lavando a louça e pensando em outra coisa, andando com a cabeça nas nuvens, tomando café e escrevendo programas.

Lembro de ter ligo algures que o budismo menciona que lavar os pratos como meditação, fazer qualquer atividade simples, manual. O difícil seria manter a mente concentrada ali naquele instante. Focar em observar, em ser espectador dos pensamentos e também da realidade, ao invés de usar o olho da mente.

O olho da mente é esta capacidade que a gente tem de estar, sei lá, com a mente em uma trincheira na Primeira Guerra e o corpo deitado no sofá. As mãos segurando o volante do carro e o cérebro pensando num diálogo acontecido na semana passada, somente na minha cabeça, entre eu e uma pessoa que talvez nem saiba que eu existo.

Nós vivemos infinitas vezes: a vida do nosso corpo físico e os múltiplos mini-eventos que imaginamos, cenas que vivemos, situações hipotéticas e imaginárias. É possível que estas cenas nos causem raiva, amor, apatia. A imaginação nos dá consequências, mesmo não sendo lá muito real.

Mas também é um grande inimigo. Alguém que vive num mundo imaginário, este que os antigos chamavam de “mundo da Lua,” está perdido, é considerado louco. Esta loucura é constantemente romantizada por artistas e romancistas, mas não deixa de ser uma correnteza que nos leva para longe da vida real, da louça suja na pia.

A louça é o fio-terra, é o que nos traz de volta à realidade. É estar andando na rua prestando atenção nas coisas ao invés de ouvir o espotifai, ao invés de ficar criando fanfics da realidade.

Cada louco e cada poeta inventa um jeito de voltar à realidade. Ground Control to Major Tom. Cada artista tenta viajar.

E nós, a cada instante que estamos acordados, precisamos escolher a qual frequência sintonizar o canal da nossa atenção.