O pensamento em rede e a inteligência aumentada

A coisa mais difícil que eu aprendi na vida foi vendo tutoriais na internet. De tudo que eu já estudei, na universidade, pós-graduação, mestrados, cursos de escrita, escambais mil, acho que a disciplina mais complicada é programação de computadores. Tudo o mais, incluindo design, redação, publicidade e todas as áreas afins são disciplinas que podem ser discutidas em mesas de bar, fundamentadas em estudos opinativos e ciência débil, e até executadas por leigos. E por que não sermos honestos, até por gente mentalmente limitada. Acho que só programar é coisa que realmente me fez olhar para algo que não funciona e simplesmente achar que não tenho a capacidade mental para compreender o tamanho do problema.

Imagino que operar um coração ou montar um reator nuclear sejam assim também. São áreas que, além de memória e conhecimento, é necessário uma imensa capacidade de processar os dados armazenados no cérebro, estabelecer conexões e criar novos resultados.

Tem sido um aprendizado completamente não-linear e desestruturado. Tenho acesso a mil livros, centenas de milhões de vídeos, uma infinidade de pessoas que perguntam e respondem microdúvidas. Não há mais uma bibliografia oficial e uma ementa única.

Essa desestruturação leva a um modelo de aprendizado radicalmente contrário ao ensino vitoriano-cartesiano a que estamos acostumados. Cada dúvida leva a uma bifurcação, e cada bifurcação a uma resposta diferente. Um caminho multilinear, semelhante às narrativas interativas, na qual cada estudante vai desenrolando o conhecimento à medida em que o necessita.

Temos sistemas de busca, redes de apoio, fóruns e debates sobre cada uma dessas questões. E é fácil que alguém se perca na busca por soluções para as suas respostas. Nenhuma das perguntas vai cair na prova, e hoje em dia é praticamente impossível programar sem a ajuda da própria máquina para pesquisar as próprias dúvidas.