Nos Estados Unidos, tem a história de um gato que vivia numa enfermaria de doentes crônicos terminais. As enfermeiras diziam que, quando ele se deitava sobre um dos pacientes, este não viveria muito mais tempo, e batata. O paciente embaixo do gato expirava.
O gato tinha a capacidade de ver os últimos instantes de uma pessoa, por cheiro, temperatura, ou algo que a ciência das enfermeiras não explicava.
Deve ser duro ter essa capacidade de farejar a morte.
Trabalhar com tecnologia dá às vezes esta sensação. A cada instante, um aparato de última geração descobre-se nas últimas. Um DVD player, um videocassetes de oito cabeças (lembra?!) ou os rádio-relógios? Uma profissão criada por alguma tecnologia deixa de existir. Ainda há ascensoristas, programadores de COBOL e telefonistas. Não desapareceram completamente, mas quase. Ainda exercem suas importantes funções para evitar que Ministros do Supremo percam tempo apertando botões de elevadores, mantendo o código de antigos satélites e naves espaciais que deixaram o Sistema Solar há algumas décadas ou facilitando a vida de quem não consegue falar com a Cortana.
Porém, tirando estes casos nobilíssimos e excepcionais, há profissões de última geração por todas as partes. Redator publicitário de formação, vejo os dias contados para meus colegas. Os jornalistas não têm nem tempo de publicar o fato: estão todos a ser demitidos a cada grande veículo que tomba.
É da natureza das coisas, já diria Petrúcio Amorim. Tudo tem seu tempo e ele acaba, diria aquele outro livro. Nasce o sol, e não dura mais que um dia, cantava o poeta baiano com a boca do inferno.
A função do dilúvio era exterminar o lado ruim da humanidade. Apenas a família de Noé e alguns animais (os unicórnios e os dinossauros não couberam). A grande dúvida dos tempos em que vivemos é saber se há espaço para nós na Arca.