Aprendendo a ler notícias: como um jornal lê as mídias sociais

já estou até vendo a capa da veja dessa semana: A INTERNET VEIO PARA FICAR! – @Elyndo, filósofo pernambucano

Não vou acompanhar o twitter hoje. Todo mundo vai falar, reverberar e regurgitar a matéria da Mariana Barbosa que regurgita a pesquisa da JWT sobre mídias sociais apresentada num evento em SP. Mas como eu acordei de mau-humor, vou escrever um post chato antes.

O texto publicado na Folha de SP não é uma reportagem, mas uma sub-categoria do jornalismo, chamada leitura de pesquisa. Coisa que os impressos usam para mandar você parar de consumir mulheres trans e reciclar o seu lixo e as suas ideias.

DISCLAIMER: Segundo o Corolário de Tarrask sobre o Jornalismo número 3, toda reportagem que inclui a palavra pesquisa é publicada com ignorância, idiotice ou má-fé. Só um dos três é crime.

DISCLAIMER 2: Eu sou publicitário. Sou anti-ludita. Detesto saudosismo de gente que tenta manter velhos monopólios, como me parece claro na matéria da Folha.

Continuando

A Grande Mídia não publica nada sobre redes sociais

A Grande Mídia não publica nada sobre redes sociais

A reportagem não esclarece o que quer dizer com “ser pautado pelas mídias sociais”. Ser pautado, IMHO, significa publicar informação oriunda de lá, ou, se você tiver uma opinião distorcida, que as mídias sociais “escolhem” o assunto a ser publicado.

 

Eu poderia publicar uma lista de programas que tentam interagir com o twitter, que modificam conteúdo de acordo com a reação do público, ou até mesmo uma emissora de MTV que procura apresentadores em blogs, twitter e afins. Mas quem quer ler com má fé diz que o Marcelo Tas é um apresentador que não faz parte das redes, ou que o William Bonner não tem (mais) conta no twitter.

Procurando pelo em urso: vamos encontrar os erros da reportagem

Primeiro erro, só pra ser engraçadinho

Tá lá escrito, em bom português, “porque as mídias tradicionais, em especial os blogs independentes, são tão pouco influentes no Brasil” (SIC, como jornalista gosta). Blogs independentes são mídia tradicional? Mídia tradicional é tão pouco influente? WTF seriously?

Quando a mídia bate nela mesma

Quando a mídia bate nela mesma

Um erro de revisão básico, porque é óbvio que a jornalista não queria dizer o que disse, mas que revela o ato falho. “Às vezes, Dr. Freud, um charuto pode ser mais do que um charuto”, já diria o Mr. Clinton.

A mídia tradicional é pouquíssimo pautada… yadda yadda

This is wrong in so many levels. A mídia não é pautada por blogueiros independentes: não existe, no Brasil, veículos de comunicação independentes, quanto mais um blogueiro. Se todo jornal pertence a um partido político e a um grupo de  comunicação, no oligopólio da mídia, não existem blogueiros independentes. Quem você queria que pautasse a mídia tradicional? Quem é blogueiro independente? Eu?

Deveriam procurar, na capa de qualquer jornal, quantas vezes uma série de palavras relacionadas às novas mídias aparecem. Garanto que ainda são muito mais do que há 6 meses.

Mais uma foto que eu encontrei no twitter

Mais uma foto que eu encontrei no twitter

Da próxima vez que a Folha de SP criar uma revolução me avisem. Vou voltar lá pro Facebook.

Na realidade, o problema é que a mídia tradicional tem VERGONHA de mostrar as suas fontes, que muitíssimas vezes vem das redes sociais. Lembro, há uns anos, quando as emissoras de TV da Espanha tapavam o logo do YouTube, até que chegaram à conclusão que todo mundo conhecia o layout da página e pararam com essa frescura. É uma idiotice do tamanho de não dar links para a fonte, mas isso já é assunto discutido demais.

Definindo grandes veículos

Segundo quem leu a pesquisa, os grandes portais têm 75% do tráfego. Inclui aí, SEPARADAMENTE, YouTube, Google e Orkut. Eu acho que, ou deveriam juntar num portal só, ou então separar o site do jornal Globo do site da TV Globo e separar também o site da novela das 8. Mas, pra dar volume e importância ao UOL (onde a Folha está hospedada) e aos outros mequetrefes que acompanham o gigante de Silicon Valley, eles desmembram. É como dizer que California, Nova Iorque, Texas, Massachussets e o Brasil são os maiores territórios da América. Pros meus ouvidos, soa imbecil.

Mas não é só isso. Ao ler a reportagem, você ganha inteiramente grátis um parágrafo no qual a leitora da pesquisa chama o Orkut de mídias sociais e depois chama o Orkut de um dos maiores portais do Brasil, na mesma catxiguria que UOL, Globo, etc. O RLY?

Por que é que ela faz isso, Tarrask?

Metade dos problemas dos jornais com a internet em geral é porque eles não entendem como funciona a coisa. Eles só lêem notícias relacionadas à sua visão de mundo, preferem reforçar sempre seus pontos e vista, e por isso vão afundando cada vez mais. Ao invés de tentar se meter na conversa, atacam. Lêem errado, de maneira distorcida, porque não querem escutar, só querem falar. Foi assim que foram educados na universidade. Eu também fui.

Não acredito num mundo dicotômico, mídia tradicional x novas mídias. A grande mudança que esses grandes jornais não conseguem ver é a dualidade entre mídias que conversam e mídias que gritam. Nem todo mundo na Folha discute, e nem todo mundo no twitter dá followback. Mas as melhores matérias jornalísticas do mundo, atualmente, são discussões.

Exemplo

A Folha publicou um texto super-cocô, dia desses. Do tipo, coisa que não merece ser impressa nem em papel higiênico. Coisa que não interessa a ninguém. Tipo, uma dondoca falando da empregada. Aí, vem um blogueiro (que faz parte de um grande portal, o interney, e eu não sei se é independente, porque ganha dinheiro com isso), e transforma numa das mais interessantes peças de discussão do jornalismo brasileiro desta semana. Luta de Classes, por Danuza Leão, um post do Alex Castro.

Cadê a Folha? Cade a Danuza? Leiam os comentários do post do Alex e leiam os comentários da crônica da Danuza. Um aluno de jornalismo poderia escrever uma tese de mestrado com isso.

Terminando num deux ex-machina

Eu não sou ludita, não vendi a alma para a Skynet ainda, não trabalho para a Matrix. Acredito que a diferença da velha mídia e da nova é o diálogo, independente de onde a sua está hospedada, se “num portal” ou na Hostbits. A galera da Almap tá aí pra mostrar que um anúncio de revista pode ser interativo, e tem um monte de empresas ruins de internet que fazem sites que não interagem.

Não quero queimar o jornalismo, mas as peças ruins de jornalismo escritas pelo medo da superação. Acho que a postura “vocês falam de mim, mas eu não falo de vocês” ridícula. E também uma decisão mercadológica idiota. Mas não é todo jornalista que pensa assim, não crucifiquem o jornal, não crucifiquem a imprensa.

Dêem unfollow no autor, não larguem o twitter. Pra entender melhor o que aconteceu, vejam a apresentação que a JWT fez e comparem com a reportagem.

Até porque há muito jornalista por aí que sabe o que está acontecendo no Egito e no mundo. O portal que hospeda a Folha é o mesmo que hospeda o Jornal do Commercio. Olha lá, a versão impressa (thx @annaterra):

Tá lá, na versão impressa do jc.uol.com.br:

Entojo, iPad, publicidade e futuro. Nenhuma relação com mídias sociais.

Entojo, iPad, publicidade e futuro. Nenhuma relação com mídias sociais.

 

 

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