Da universalização do chute na canela

O personagem mais detestável das redes sociais não é mais o troll. Antigamente, esses monstrinhos abomináveis porém controláveis. Trolls habitam comentários de jornal e fóruns anônimos, o que os torna esquecíveis e evitáveis. Dá pra ignorar comentários, sempre.

O problema, a grande praga atual, é o chutador de canela. São aquelas pessoas, Júnior-Baiano-style, que estão ali somente pra quebrar a sequência de jogo. O obstáculo do tiki-taka do diálogo. As lombadas quebra-mola. Xô explicar como ele funciona.

Você vê alguma coisa vindo na sua direção, tal qual uma bola sendo passada. Um objeto. Um filme. Um assunto. Uma ideia. Qualquer coisa. Como nada no nosso universo é 100% perfeito, o que o nosso querido chutador-de-canela faz? Exatamente. Chuta a sua canela. Nem olha pra bola. Nem pensa que dá pra roubá-la e passar pra alguém do time dele (às vezes, o chutador de canela tá no seu time, mas eles não ligam pra isso).

Encontrar o defeito e tirar toda a energia vital do interlocutor, antes de qualquer outra coisa

Como um vampiro de energia, a criatura vem, encontra o maior defeito do filme (tem final triste, ofende uma classe-religião-ideologia, usou trabalho escravo) antes mesmo de avaliar se existe alguma coisa positiva.

Desse jeito, capitalismo, comunismo, yoga, iPhones, coca-cola, Nasa, suicídio, dentista, empréstimo, memória RAM, elevadores, implantes de silicone, revistas em quadrinhos, exploração da Amazônia, Timehop, Péricles Chamusca, coletâneas de jazz, posts longos reclamando da vida, leão de Cannes, reggaeton, vergalhão de aço, gerentes de projeto, TUDO é ABSOLUTAMENTE RUIM. Tudo é medido pela régua do seu maior defeito, e nada mais, nunca mais, será proveitoso, ou passível de ter um lado bom, algo de aproveitável.

O chutador de canela simplesmente vem, bota o pé, quebra a sua perna e manda o jogo pro espaço.

E os árbitros, esses indefensáveis, eles nunca marcam a falta.

 

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