Fábrica Sem Matéria-Prima

Em 1928, foi lançado o primeiro desenho do novo vizinho de Tarrask, o Mickey.

Ele foi uma paródia de um outro filme, que por sua vez se baseou numa música de 1911. O processo de sincronização de som com o desenho, algo também inovador no caso dos desenhos, foi uma técnica copiada do filme O Cantor de Jazz, do ano anterior.

Imagine se isso se passasse hoje. O pobre do Disney passaria por um caríssimo pesadelo jurídico pra conseguir licenças de todos esses envolvidos.

Mickey seria criado?

Quem divulgar essa imagem corre o risco de ser vítima de preconceito ideológico

Quem já produziu qualquer coisa sabe que a gente se baseia no que já existe pra depois produzir nossa versão, uma mistura do que vimos.

Seja pra escrever um texto na internet, criar um produto novo ou escrever um artigo científico, nós passamos pelo mesmo processo básico.

Colhemos os ingredientes através de nossos sentidos, misturamos esses ingredientes no aprendizado, fermentamos a mistura na imaginação, e no final da fabricação servimos uma substância diferente.

Imagine se temos que pedir permissão ou pagar pela licença de uso de TODAS as fontes onde que bebemos? Teremos que abrir mão delas?

Dá pra produzir algo sem essa matéria-prima?

Esse é o ponto central do livro Free Culture, de Lawrence Lessig. Ele fala de como a produção cultural americana corre o risco de entrar em colapso devido à crescente dificuldade gerada pela neurose da propriedade intelectual.

Sua análise é detalhada, com uma argumentação elegante e contundente. Muito convincente.

Ele explica porque a propriedade intelectual deve ser tratada diferente da propriedade material, e que deveria passar para o domínio público em um tempo bem menor que o atual.

O autor é um dos ativistas do Creative Commons, e apesar disso parecer coisa de comunista subversivo, ele não defende a pirataria. O que ele defende é que a sociedade tem que manter o direito das pessoas de usarem os conteúdos disponíveis pra criar conteúdo novo com ele.

E para facilitar a leitura de todos, e a felicidade geral da nação, o livro está disponível completinho em áudio, gravado por voluntários, pra ser baixado de graça aqui. É menos perigoso lê-lo nesse formato ao dirigir.

 

 

Eu recomendo fortemente para quem já publicou algo, e principalmente pra quem lida com produções alheias.

Boa Leitura!

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