No dia do Nobel, vamos ler outra coisa: Mia Couto

Pra maioria das pessoas que eu converso sobre literatura em português (ou seja, galera do Brasil), existem dois tipos: 1- os livros chatos e clássicos que a gente lê na escola e que, quase sem exceção, foram escritos antes da Semana Moderna de 1922; e os livros escritos depois, nenhum clássico, nenhuma unanimidade, exceto Paulo Coelho.

Descobrindo outros mundos, mesmo

Em 2008, numas férias forçadas pelo início da crise aqui no terceiro mundo, eu fiz uma peregrinação entre as capitais ibéricas e terminei vindo morar em Barcelona. Acompanharam-me o portfolio e um livro de um autor então desconhecido, que eu comprei baratinho em Lisboa. Chamava-se “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.” O autor de nome estranho era Mia Couto.

Mia Couto - escritor Moçambicano

Mia Couto - escritor Moçambicano

Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

Tem um português gostoso de ler, cheio de escrituras, palavreios e expressões estranhas, contando a história de um jovem que volta à casa do avô para o funeral, descobre que é filho deste, desenterra centenas de segredos do passado, e então permite que o falecido vá para o outro mundo em paz, encontrando-se a si mesmo no caminho.

O livro foi transformado em filme, que eu ainda não vi, mas já entra na lista de obrigatórios. 😀

Português de Moçambique

Para um redator fissurado em aprender outras línguas, ler a versão moçambicana é uma maravilha. Sem aqueles clichês de que é difícil, que usam outras terminações. É alguém que escreve na mesma língua que eu, mas que usa as palavras de uma maneira que eu nunca usaria. Quando Caetano dizia que gostava que a língua roçasse na de Camões, era mais ou menos isso. Mia Couto faz coisas com a língua que vixi maria.

Jesusalém

Depois das férias, acabei de ler o Jesusalém, um livro tão recente que nem está na versão em português da Wikipedia. É invenção em cima de invenção, livro desses de fazer Cecília morrer babando, se trancar num quarto e não sair mais nunca. Outra vez, os temas são relacionados a mistérios no passado e o ponto de vista de uma criança que sofre as consequências de ações infames e loucas de outras pessoas. Mas sério, há umas frases que desmontam.

Todo silêncio é música em estado de gravidez.

Fica a dica, e fica aberta também a caixa de comentários pra que alguém que tenha lido ou quiser ler e dar algum pitaco sobre literatura d’além-mar, linguagens ou mesmo quem souber a real origem do nome Mia. 😛

Procurando mais autores moçambicanos pra ler

É parte do plano agora encontrar mais coisas legais daquelas bandas. Já ouvi falar em alguns nomes, mas não conheço ninguém que queira indicar uns nomes. Tenho um livro do Agualusa, que é angolano, mas ainda está na fila de espera.

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