O Amor Atrapalha o Sexo

Existem pessoas que eu admiro por enxergarem o mundo de maneira realista, sem extremismos ou preconceitos. Tem outras que eu adoro por conseguirem explicar essa visão com clareza e elegância.

O psicanalista e escritor Contardo Calligaris é um exemplo da última categoria.

Agora já imagina de onde danados eu tirei o título desse post? Já se convenceu que não vou falar de putaria nem machismo? [No finalzinho do post tem a continuação da frase, e a fonte]

Voltando à capacidade de processar e explicar o mundo, vejam como ele consegue falar de um assunto comumente confuso de uma forma clara e precisa:

“Uma das grandes funções terapêuticas de uma análise […] é que as pessoas se narram, não necessariamente de uma maneira contínua […] e eu acho que narrar a própria vida é absolutamente crucial não só para torná-la interessante mas para transformá-la em algo que vale à pena aos nossos próprios olhos. É preciso encontrar maneiras de romancear a vida da gente.”

Através de meus pais, aprendi a lê-lo na Folha. Desde então virei um fã ávido pela edição das quintas-feiras.

Por isso furei a fila de coisas a assistir com a entrevista dele no Roda Viva, exibida ainda em novembro do ano passado, assim que soube que ela estava disponível na internet. [e legalmente disponível!]

O programa é mais longo que os clips com os quais estamos acostumados no youtube, mas vale cada minuto.

Sugiro que chame amigos pra assistirem juntos, pois em vários dos temas vai lhe dar vontade de comentar com alguém.

Se você ainda precisa de alguma motivação pra decidir assistir, eis uns trechos pra terminar de lhe convencer:

  • “Para muitas pessoas as redes sociais são uma maneira de quebrar uma solidão tenebrosa”
  • “Contar nossa própria vida, nem que seja pra nós mesmos num diário, é transformador e dá sentido à nossa vida”
  • “minha análise melhorou minha qualidade de vida, e melhorar minha qualidade de vida é tornar minha vida mais intensa. A psicanálise é um ângulo pra se observar a realidade, toda a realidade cotidiana, a do microblog, é um ângulo muito rico, então é algo que enriquece muito minha relação com o mundo”
  • “você transa com a sua fantasia, o outro transa com a dele ou a dela, e a gente se aproveita da presença desse cabide para exercer a nossa fantasia”
  • “o amor atrapalha o sexo porque o amor torna o outro sempre um pouco intangível, o amor idealiza fortemente o outro, e o sexo é um negócio que se trata de pegar o outro […] se permitir ao corpo do outro”

Ele também já escreveu um livro, citado na entrevista.

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