Às vezes, eu cogito a possibilidade de voltar pro Patropi, mas tem uma coisa que sempre me deu medo preguiça: a burocracia. Isso de arrumar visto pra mulher, vacinar o gato e registrar num consulado, validar diplomas e tal e coisa me fazem sempre desistir e continuar na minha condição de expatriado brasileiro não-praticante.
Por exemplo, a pessoa mais inteligente da família minha irmã está tentando, há uns bons três ou quatro anos, validar um diploma de graduação em Letras, sem sucesso. A solução mais fácil (e todo mundo recomendou que ela fizesse isso) era fazer um vestibular e fazer o curso de novo. Teve que traduzir milhões de coisas, ementas, descrições, até recibo de pagamento de projetos relacionados a bolsas (juro, eu ajudei-a a fazer alguns), refazer trabalhos de graduação, de nível mais baixo do que os que ela atualmente escreve, fazer estágios supervisados por mestres (sendo doutora).
E, enquanto a UFPB não aceita uma simples graduação em letras, a miserável faz mestrado e doutorado no deserto, vai pra Boston, vira professora universitária e apresenta conferências em Harvard. Tipo, a maior universidade em linha reta do mundo escuta, mas ela não consegue passar nos rigorosos critérios pessoenses.
Claro que há besteiras políticas, ciúme de cidade pequena, fulano que odeia a família de beltrano que é amigo de cicrano. Claro que há professores com medo, inveja ou preguiça.
Mas enfim. É Harvard. Não é a Pracinha da Alegria.
Se eu fosse publicitário, faria um título do tipo: “Dá aula em Harvard mas não tem nível superior na Paraíba”, mas alguém diria que eu estou apelando. O problema é que não. É fato. Tem documento até demais provando.
Então eu vou ficando aqui fora, com títulos espanhóis validados nos US and A, mas que provavelmente não valem nada pra nenhuma universidade brasileira. É por isso que eu não volto. Pra não ter raiva de besteira.
E a minha irmã? Um dia ela volta. Porque quer muito, vai conseguir mesmo que tenha que enfrentar todos os burocratas do mundo. Porque ela é foda.