Os peixes não conseguem ver a água

Enquanto converso com Quelalmeida, lembrei daquele post sobre pessoas burras incapazes de perceber a própria estupidez. No meio da conversa, veio a frase do título, que eu poderia transformar numa série de posts ou até num blog. Um desses tumblrs conceituais, colecionando exemplos de pessoas que estão tão cercadas de um elemento que são incapazes de vê-lo.

Como nós, que não vemos o ar, ou como um burro, que não consegue ver uma ideia boa nem na base da porrada.

O chato de ficar muito tempo em algum lugar é que nos acostumamos

Pode fazer o teste com qualquer pessoa que passou muito tempo pensando sempre do mesmo jeito: elas viciam e não notam. Sabe aquele seu amigo que passou num concurso público e agora não consegue mais ceder algo que considera direito adquirido? Sabe aquele colega que, mal entrando na faculdade de direito, está sempre procurando as regras e maneiras de quebrá-las sem ser punido?

Sabe aquele seu amigo criativo que foi morar em São Paulo e agora é devorador de anuário, workaholic e sabe o nome de todo mundo que algum dia já entrou em algum anuário ou ficha, de memória?

Todos eles são incapazes também de notar que têm esses hábitos enrraigados.

Nós somos vítimas da maneira como condicionamos os nossos pensamentos. Fazemos isso para simplificar a vida. A deformação profissional existe, e nem sempre é ruim.

Quando começamos a perceber é que começa a incomodar

Quando você nota que nem sempre é hora de fazer política.

Quando você aprende que nem sempre é necessário ser criativo.

Quando o conhecimento profissional só é útil para tarefas específicas.

Quando o seu comportamento fica muito diferente do das pessoas normais.

Aí é hora de sair da água um pouquinho, dar uns saltos, fazer pirueta.

Afinal, como explicou Ovídio, quem vive de condicionamento é golfinho e rato.

8 Comments on “Os peixes não conseguem ver a água”

    1. O Zen é foda. E eu amei essa referência. Acho que a frase do título, inconscientemente, é uma referência a isso. Não sei onde li, nem quando vi, mas provavelmente não foi uma ideia minha não, eu só lembrei que existia essa metáfora para mostrar a nossa cegueira cotidiana.

      Esse zen em quadrinhos é um livro? tá disponível?

  1. vi dia desses num lugar pra sempre perdido dentro da minha pasta de referências: você só é capaz de criticar nos outros aquilo que você “sabe”. se você sabe, conhece, teve contato, é porque vivenciou isso de alguma forma.
    ergo, o que os outros criticam em você é aquilo que reconhecem como erro – reconhecem de um ponto de vista pessoal, já que processam a informação… críticas são um espelho da fraqueza alheia.

    dá-lhe, filosofia =)

    1. Há um tempo eu fiz um post sobre essa incapacidade das pessoas, citando um mega artigo que eu achei no instapaper. É muito difícil, principalmente em campos subjetivos como a arte, vermos as nossas próprias falhas.

      Por isso reclamamos tanto. Porém, como eu ando numa fase de buscar evitar a insatisfação e a auto-intolerância, meto o dedo na ferida.

  2. Tarrasko,

    Esse é um ponto muito comum no mundo todo, principalmente depois da infância.

    Quando a gente esquece a graça de aprender coisas novas, de desmontar nossas certezas e montar outros brinquedos, a gente está pronto pra virar um ratinho de laboratório.

      1. Meus comentários, tal qual os posts, são regidos pelo Creative Commons do site.

        O que significa que você pode tatuar, mas tem que tatuar também o link pro comentário.

        E pelo visto, o tatuador não poderá cobrar por escrever a frase (mas pode cobrar pelo link)! 😀

        Mas só por curiosidade, onde será a tatuagem?

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