Se um furacão destrói um jardim artificial, os ecologistas ficam contra ou a favor?

Nelson Rodrigues dizia que o Fla x Flu nasceu quinze minutos antes do nada. A rivalidade futebolística era a grande atração para os torcedores, dava um certo tom épico ao evento, monumental.

Nos dias de hoje, entretanto, parece que o jogo virou.

A rivalidade entre duas cores foi extrapolada. Em praticamente todas as conversas, há dois times. Um está completamente certo e o outro epicamente errado. Todos os assuntos estão divididos em dois lados, com cores opostas e torcidas aguerridas.

O leitor, obviamente, está certo na escolha de todos os times.

O seu partido é o melhor. O seu sexo. A sua opinião sobre o sexo, sobre o trabalho, sobre a justiça, sobre a natureza, modelo econômico, até a sua posição sobre a vírgula de Oxford é a mais correta.

E o outro lado merece perder. Tem o pior time. Não há mais espaço para a dialética, para um bate-bola de ideias, uma troca de conceitos no meio de campo, um drible argumental,  uma goleada de contradições.

Não tem VAR, não tem tribunal esportivo, não tem apelação para a FIFA. Nós só queremos ganhar, só a taça importa.

Esta maneira de ver o mundo -o meu time está sempre certo, é o melhor- aparentemente é unânime nos dias de hoje.

Só que toda unanimidade é burra.

Estamos presos nos nossos times. Não conseguimos elogiar, e às vezes, nem reconhecer o valor do outro lado. Sabe o brasileiro incapaz de elogiar um Maradona, o português que acha que Messi não é nem tão bom assim?

Estamos assim em praticamente todas as conversas.

O furacão é um processo natural. O jardim foi plantado. De que lado você vai se posicionar?

A sua escolha revela a sua vida, como ela é.


Este post é o 4 de um exercício chamado #the100DaysProject