Se você é um brasileiro de sucesso, se mate.

Vou tocar em feridas agora.

O único brasileiro santo é o Ayrton Senna. Que meteu a cara num muro antes de ser crucificado por alguma coisa. O Nelson Piquet nunca será uma unanimidade porque viveu para ser chamado de arrogante (foi campeão do mundo duas vezes, fez aquela ultrapassagem que parecia que estava pilotando um 747, mas não tem o direito de se considerar bom).

Mario Jorge Lobo Zagallo não pode se considerar um bom treinador. Ele é o gagá do “vocês vão ter que me engolir”, o treinador de um Flamengo desmoralizado. Quatro copas do mundo? Ofensa.

Santo é Vinícius, que morreu jovem. Tom Jobim tinha que se exilar em NY e dizer que “no Brasil, sucesso é ofensa pessoal”. João Gilberto é chamado de maluco por querer viver em paz com seus oitenta e tantos anos.

Pelé, por ter se aposentado cedo, é considerado o maior de todos os tempos. Mas já vai perdendo aquela unanimidade porque continua por aí, dando opiniões, fazendo comerciais, sei lá o que tá fazendo, mas que será suficiente para garantir oposição e ódio.

Chico, meu deus, até o Chico já não é mais unânime. Virou defensor da Dilma e agora é bonito odiar seus belos olhos azuis.

Os únicos brasileiros que serão considerados grandes por todo mundo são os que morrem cedo, de acidente, doença, tragédia, abandonados, esquecidos, ostracizados, como Tancredo, Cazuza, Tim Maia, Garrincha, os Mamonas Assassinas, João Pessoa. Gente que morreu antes de fazer merda.

O Brasil não perdoa ninguém. Principalmente quem sobrevive ao próprio sucesso. Todos os que chegam ao topo e tentam ficar por lá, ou somem por um tempo e voltam terminam destruídos.

Luis Felipe Scolari nunca vai se livrar do 7×1. Roberto Carlos não vale mais nada porque processou o cara da biografia. A Xuxa, na Record, não passa de uma cópia de mil coisas, inclusive dela mesma. O Lula vai ser crucificado pelas legiões do Bolsa Família se for candidato a presidente outra vez. Ninguém dá o menor valor pro Plano Real, e o Itamar morreu sendo conhecido como o cara do Fusca.

Sempre tem um maníaco pra lembrar que, se o Vargas não tivesse “saído da vida para entrar na história”, ele acabaria na cadeia.

Eu não sou muito de acreditar em signos, mas se fosse, tinha certeza que o Brasil é um país de escorpião.

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