Um Espinho no Pé

Andar com um espinho encravado no pé é uma verdadeira penitência. Você sofre a cada passo, sem ter um minuto de sossego. É como estar com um sapato apertado, você não consegue se concentrar em outra coisa antes de se livrar dessa perturbação.

Agora imagine que você sinta um incômodo, de intensidade equivalente, mas que não consiga identificar qual é a fonte. Mesmo sem ter a quem culpar, por proteção, nós reagimos escolhendo um bode expiatório.

Qualquer inocente para assumir a culpa desse incômodo.

Um exemplo típico é o do preguiçoso que não se reconhece como tal. Ele percebe um incômodo, como as notas baixas no curso, mas ao invés de assumir a culpa do resultado ele procura outra saída.

Se formos elaborar a história, podemos imaginar que, com um pouquinho de reclamação, ele convence um psiquiatra de que sofre de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH, para os íntimos). Agora sim, nosso exemplo tem um bode expiatório perfeito. Um transtorno que não depende dele, a quem ele pode culpar todos seus desleixos, e que só precisa de uma pílula para ser resolvido.

Esse é um ciclo vicioso, onde cada ação torna mais difícil o retorno pra realidade, como numa areia movediça. O remédio não surtirá o efeito esperado e os culpados pela ineficiência serão a dosagem ou a frequência, não uma falha no diagnóstico.

O espinho continua encravado enquanto a pessoa se ocupa com coadjuvantes do problema. É como fazer uma drenagem linfática para resolver um caso de ciúmes.

Como nossa percepção é a causa dessa bola de neve, depender dela pra saber que sofremos de um problema desse tipo é pouco inteligente. Você só arruma mais justificativas pra manter o ponto de vista errado.

E tem alguma saída?

Sempre tem, mas não existe uma fórmula ou regra que funcione 100% das vezes. Nem mesmo sessão do descarrego faz esse tipo de milagre.

Umas das formas mais eficientes é aceitar a percepção dos outros. Amigos, familiares, colegas de trabalhos, pessoas com quem convivemos, cada um deles cria um juízo de valor sobre você, e essa é uma fonte riquíssima pra avaliação de nós mesmos.

Assim como nós avaliamos os outros, eles avaliam nosso comportamento, e são os melhores espelhos para formarmos uma auto-avaliação mais próxima da realidade.

Mas isso só funciona se você estiver convencido de que tem algo a melhorar. Se não achar que precisa melhorar, não tem feedback que vá ajudar.

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