O crime perfeito
Post escrito para o Clube de Leituras de Borges, do Idelber. O conto pode ser lido aqui, em espanhol.
São duas discussões no conto, ao meu ver, uma mais interessante e universal, e outra pessoal, do Borges.
A pessoal é colocar o sexo como algo imundo, porém necessário, para a redenção de Emma, e do ser humano. Borges tinha medo do sexo, recusava, e parece que morreu no queijo, como dizem lá na minha terra. Então parece que ele usa o sacrifício da virgindade da mulher com um marinheiro no cais do porto como uma maneira da filha redimir a vida do pai, a honra paterna. Vejo um pouco de sentimento de culpa católica muito arraigado, inclusive meio forçado para uma judia convertida. Mas para o autor era algo super importante, e inclusive rara que não esteja em outros textos seus, como a sua obcessão por livros e pelo infinito, que não aparece aqui, mas está em praticamente em todas as outras histórias.
A outra, muito mais interessante para o leitor e filosoficamente, é o debate entre verdade e verosimilhança. É um argumento meio Foucaultiano que não podemos ter uma noção perfeita do real, da realidade, porque nunca teremos todos os pontos de vista. Então, confundimos muito frequentemente o real e o verossímil, como todas as pessoas no final do conto. Emma sai imune do seu crime (matar o patrão) porque, pelo ponto de vista da humanidade, é plausível a sua história. Claro, para isso, teve que ser o suficientemente inteligente para criar uma que ninguém pudesse ver onde estão as falhas. Não existe crime perfeito, mas se pode encontrar um crime onde todas as evidências estejam escondidas, não?
Essa é a mensagem que Borges deixa no conto, contra tudo que Sherlock Holmes e Poirot tentavam dizer ao contrário.