Se tem uma coisa que eu luto contra a minha curiosidade pra deixar de fazer é ler comentários de blogs. Ou a timeline do facebook. Ou o viciante twitter. Cada vez menos blogs. Menos revistas. Menos livros.
Não quero dizer que as pessoas estejam escrevendo coisas menos interessantes. A quantidade de pensamentos inteligentes é provavelmente maior. Só que a tecnologia deu voz a todos os humanos. Qualquer um é emissor, e o grande medo dos neo-luditas, da infinita baboseira que eu achava que não iria acontecer, aconteceu. Tem muita merda sendo escrita, o tempo todo.
E não estou chamando ninguém de burro. Até as pessoas inteligentes falam merda de vez em quando. Aliás, falam merda a maior parte do tempo. Shakespeare deve ter escrito umas 50 mil palavras, e foi isso que sobreviveu. Só a parte boa. Os diálogos ruins, os trocadilhos infames, tudo isso foi esquecido, porque naquela época não tinha internet.
A besteira é a base da sabedoria, mas a irrelevância soterra tudo. Lembramos as pessoas pelas coisas interessantes que dizem, ou pelas grandes estupidezes. Lembraremos para sempre das frases de Oscar Wilde e do político italiano que usou a infame “O trabalho liberta” como slogan. Mas ninguém vai lembrar da minha foto do almoço do sábado passado. Raios, nem eu lembro.
O excesso de compartilhamento está criando um monstro: há mais coisas para ver do que a nossa vã memória e o nosso parco tempo na terra são capazes de dar conta. E a vida inteligente será, cada vez mais, filtrar e chafurdar na merda para encontrar pepitas de algo que valha a pena.
Quando foi a última vez que você viu um comentário inteligente, em qualquer lugar?
Qual tweet mudou a sua vida?
Quê campanha publicitária contava uma história interessante?
O quê você viu que era relevante para o que quer que seja?
Quem é criador de conteúdo?
E estou falando de pessoas. As marcas e agências de publicidade ainda estão presas em armadilhas ainda maiores, sugadas num universo de irrelevância aprovado pelo departamento jurídico e diretores de branding.
O que, no final, vai diferenciar o que a gente faz a cada dia do joio que inunda a rede não é escrever mais. É editar.
2 Comments on “Vamos ser honestos: você não tem nada interessante para dizer”
E é massa que essa relevância serve tanto pra bem quanto pra mal.
Se você não se lembra do que comeu, quer dizer que você almoçou douradinhos. Só dois, e pequenos.
Se tivesse calhado cocó, você se lembraria! 😉
Lembrava.