O que lêem os que não lêem

Artigo publicado no jornal Contraponto, de João Pessoa, Paraíba.

Nunca antes na história deste país os jovens leram tanto.

É verdade, e é uma pena. Há pouquíssimos anos, na metade da minha adolescência, em meados dos anos 90, eu já lia como um desesperado tímido, mas isso era raro entre os meus amigos e colegas de escola da mesma idade. Conhecia a vários garotos que não liam praticamente nada, durante o dia, além do número do ônibus que iam pegar, um ou outro papel que encontravam por aí e pouco mais. Livros, nunca. Revistas, raramente, sendo a maioria de mulher pelada. Escrever? Para quê? E para quem?

Hoje, um jovem médio deve escrever umas 10 SMS por dia, e conversa horas no MSN, no orkut, no djabaquatro. Eles escrevem, super mal, mas escrevem. Leem as besteiras que eles mesmos escrevem, mas leem. E visitam sites de assuntos que os interessam, como futebol, fofocas adolescentes ou qualquer outra coisa pouco útil do gênero. Mas são adolescentes, eles podem.

O público leitor de jornais é cada dia menor. E não é formado de maneira proporcional na população. Há pouquíssimas pessoas com 20 e muitos, 30 e poucos que lê impressos. A maioria deles nem viveu a revolução digital, já começou a se interessar por notícias e artigos numa época em que estes já estavam disponíveis no computador.

[inserir aqui o protesto dos antigos leitores, que o papel é mais cômodo, mais prático, “estou mais acostumado”.]

A grande maioria dos jovens não pensa assim.

Eles veem as notícias na internet, na mesma hora que o jornalista, sentado dentro de uma redação, que irá transformar aquilo no que os leitores antigos irá ler no dia seguinte. Eles comentam as notícias. Interagem com elas e as multiplicam. Seria um trabalho ótimo para uma turma de 2″º período de jornalismo investigar, durante 3 semanas, quê notícias de um determinado jornal saíram primeiro, se na net ou impressa, investigar a diferença de tempo (lag) entre o digital e o impresso, e também a profundidade do conteúdo. Na grande maioria dos casos (política, economia e ciência), a internet possibilita uma quantidade maior e mais profunda de análise, explicação e detalhamento. Além de permitir erratas e discussões.

Os adultos sempre dirão que os jovens não leem. É fato. Afinal, nas primeiras fases da vida, é bastante mais interessante dedicar o tempo a produzir, a namorar ou a vagabundar por aí. Depois, quando formos responsáveis, leremos as coisas importantes. Ou não.

Mas não se pode negar que há, hoje em dia, muito mais comunicação escrita do que antes.

Em português e em miguxês.

0 Comments on “O que lêem os que não lêem”

  1. Eu acho que cada um continuará cumprindo seu papel: os jovens querendo fazer tudo à sua maneira, e os velhos reclamando do que não for feito à moda antiga.

    Pessoalmente, já tou na idade de reclamar dos miguxos e de ainda acentuar as conversas por IM! 😀

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