Artigo publicado no jornal Contraponto, de João Pessoa-PB, esta semana.
Nos anos 80, um famoso anúncio muito popular nos EUA dizia: “Ninguém vai te demitir por comprar IBM”. Focada no público profissional, empresas e gerentes de TI, a campanha era a coroação da marca como uma empresa séria, segura, garantida, sem riscos. Alguns anos depois, uma concorrente menor (na época, porque hoje a IBM não fabrica mais computadores e a menor é a atual maior fabricante), a Dell, fez um anúncio que era a resposta: “Ninguém vai te demitir por comprar IBM. Mas ninguém também vai te dar uma promoção”. A Dell se apresentava assim como uma concorrente arriscada, ousada, que tentava se diferenciar e crescer de uma maneira alternativa.
Em quase 30 anos, a IBM perdeu completamente o bonde da fabricação de computadores (foi comprada pela chinesa Lenovo) e a Dell é a maior fabricante dos EUA. Entretanto, a IBM ainda é uma grande empresa de tecnologia. Continua sendo séria, pouco arriscada, segura. Nunca dá o primeiro passo. Não lhes interessa ser vanguarda.
No último final de semana, publicaram um relatório imenso sobre o futuro da propaganda. Resumindo em uma linha, dizem que o negócio da comunicação comercial vai mudar mais nos próximos 5 anos que nos últimos 50. JK morreria de inveja.
Nos últimos 50 anos, a propaganda foi uma das profissões que mais mudou. Digamos que um publicitário da década de 50 não conseguiria fazer absolutamente nada do meu trabalho. Não entenderia o fluxo de trabalho, a hierarquia da empresa, os equipamentos, os conhecimentos básicos necessários. Nada. Lhufas. Eu, voltando no tempo, talvez até entendesse um pouco, porque tenho a vantagem histórica de ser o sucessor, mas quase que com certeza não faria o seu trabalho de maneira eficiente. É até difícil para um advogado entender isso. Pode-se dizer que Ruy Barbosa poderia, hoje, escrever uma petição correta. Olavo Bilac faria um jingle, que é uma coisa atualmente abominável, mas não faria um website.
Já falei várias vezes por aqui sobre isso, quais serão as mudanças para os profissionais, mas queria levantar umas questões ainda mais interessantes para o público geral.
A televisão gratuita, os jornais, a imprensa em geral, a grande maioria dos eventos esportivos, como Copa do Mundo, Olimpíadas, Toyota Cup, os grandes concertos, turnês mundiais de artistas famosos, a explosão da internet, e até as eleições em todos os países democráticos não seriam nem um pouco parecidas ao que são hoje sem a propaganda.
Então, a pergunta é: se a publicidade mudar completamente em 5 anos, como vão mudar as relações das pessoas com tudo que depende dela?