Artigo publicado no jornal Contraponto, de João Pessoa, Paraíba
Para as pessoas que não acreditam que a Terra tem 7 mil anos, existem resquícios de obras humanas com dezenas de milhares de anos de idade. Algumas, são texto, e a maioria, traduzíveis.
Histórias antiquíssimas ainda podem ser encontradas, acessadas e repetidas. A fonte original do Hamlet, que pode ser rastreada até a antiga Pérsia, mitos egípcios e lendas maias é uma delas. E todas estas variações estão hoje presentes e a ponto de ser digitalizadas. Ou seja, serão eternas.
O sonho de qualquer escritor, e também de qualquer ser humano: eternizar-se. Seja por descendência, ou por deixar algo que valha a pena ser gravado, lembrado e recordado muito depois que ele deixou de pisar o planeta. E agora, será guardado infinitamente. Ou pelo menos até que não haja mais nenhum ser humano andando. Ou que as pessoas deixem de entender o que está escrito, como as Pedras de Ingá.
E como as línguas cambiam, as histórias evoluem e o moinho de Hamlet se transforma na Dinamarca, muita coisa é criada, mas muita coisa se perde. Os livros perdidos, as biografias esquecidas, as memórias apagadas. Quem quiser que salve as suas, mas que sejam importantes para os outros, porque senão estarão disponíveis, mas esquecidas.
Sabemos que hoje as línguas evoluem mais lentamente devido à banalização da escrita. O latim na penísula ibérica, entre os séculos XIV e XV se transformou em dezenas de dialetos, alguns dos quais conseguiram exércitos e se transformaram em idiomas independentes. Agora, as línguas evoluirão bastante mais lentamente. Porque estão gravadas, e não são somente guardadas de memória.
Lembrar de cor significa lembrar com o coração. Por isso, se utiliza para dizer que se tem algo guardado eternamente, que a memória do coração é a melhor. Mas, como diz o ditado que dá nome a este texto, o coração esquece, se atrapalha e trai. A boa memória, como provaram os egípcios, é a guardada nas pedras.
* O título é um ditado popular espanhol.