Problema matemático do 2″º grau

Artigo publicado no jornal Contraponto, de João Pessoa, Paraíba.

Estava outro dia relembrando o que tentaram ensinar-me no colégio. Entre coisas absolutamente inúteis para qualquer ser humano (que tipos de questões costumam aparecer nos vestibulares, como chutar melhor a alternativa correta se você não sabe a resposta, entre outras questões de meta-conhecimentoo), coisas medianamente úteis, mas não obrigatórias (que países faziam parte do Benelux, o que era a OTAN e do Pacto de Varsóvia, sua contrapartida comunista) e coisas importantes (quais aulas podemos dormir sem ser incomodados, que professores não exigem muito, que coisas não devemos escrever nas redações porque as professoras não gostam, por puro capricho), deparei-me com uma dúvida que me interessou:

– por que ainda se ensinam equações de segundo grau, trigonometria avançada ou matrizes?

Não nego o valor destes conhecimentos. São úteis, importantes, extremamente válidos. Mas pouquíssimos seres humanos necessitam saber calcula-los. No máximo, entender para quê servem (e isso, não lembro que me ensinaram no colégio). Suspeito que são úteis nas engenharias, em cursos de física, etc. São tão importantes que deve haver cadeiras do primeiro ano dos cursos de exatas onde se volta a ensinar, direito e corretamente, como fazer estes cálculos.

Mas para todo o resto dos alunos, é conhecimento absolutamente inútil. Igual a ensinar as escolas literárias do século XIX. A maioria das pessoas não precisa saber disso para viver (você, leitor, provavelmente universitário e profissional bem sucedido, sabe?). Os alunos são entupidos de informação que será esquecida, na grande maioria dos casos. Se vai pra humanas, esquecerá algo. Se vai pra exatas, esquecerá outro algo.

Enquanto isso, se negligencia coisas muito mais importantes, da matemática, da física ou do uso da língua, que são obrigatórias para todos.

A grande maioria dos alunos não sabe escrever. Têm pouquíssimas aulas de redação, e quase nenhuma aula de leitura. Não aprendem a interpretar textos, a ler um jornal ou um livro. No nível superior, ensina-se a escrever, a partir do básico. No nível superior, ensina-se a fazer um balanço financeiro. No nível superior, ensina-se programação básica de computadores, a criação de algoritmos para resolver um problema.

Acho estranho que um universitário, alguém que foi capaz de calcular uma equação de segundo grau, com duas variáveis, regras complexas, mas não consegue entender o preço de alguma coisa em dólar, ou calcular juros simples.

No 2″º grau, na Paraíba, temos creio que uma aula ou duas sobre juros. Mas uns 2 meses de aulas sobre cálculos complexos que não utilizamos nunca.

Deve ser por isso que é mais comum no Brasil divagarmos sobre coisas inúteis que trabalharmos para pagar as dívidas. É que não entendemos direito.

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