Beta 2

Artigo publicado no Jornal Contraponto, na Paraíba.

“Fulano se formou. É um profissional completo, estudado, doutor. Sabe a profissão dele, as técnicas e tudo o que precisa saber. Agora vai trabalhar e construir a sua carreira.”

A frase acima hoje é tão obsoleta quanto, digamos, “viva o rei”, ou “proletarios do mundo, uni-vos”. Ficou perdida em algum lugar do século XX, que morreu há quase uma década e muita gente ainda insiste em trazer à tona.

Hoje, década de 00, ninguém é formado, ninguém tem nem pode cogitar ter conhecimento completo sobre nada, nem pode se dar ao luxo de pensar que já aprendeu o que tinha que aprender. Autoatualização constante, instant”nea e infinita. Como os programas de computador atuais.

O melhor programa de emails do mundo, gmail, é vendido pelo seu dono como Beta, ou seja, tem uma plaquinha que diz: não está pronto. Programa em eterna construção.

As grandes idéias que surgem na internet agora começam, são postas no ar cheia de erros e falhas e estas vão sendo corrigidas à medida que o tempo passa. E vão crescendo escutando (e principalmente utilizando) o feedback dos usuários, dos consumidores. Começar um projeto ou uma empresa se parece muito mais a uma caminhada, na qual você se adapta a cada passo, do que o lançamento de um foguete, onde tudo tem que estar correto antes de iniciar.

A vida da gente também é assim, e há muito tempo. Foi só um período em que se criou essa mania feia de achar que podemos nos formar e nos achar preparados para a vida.

Não consigo lembrar quando nasceu esse conceito de estar formado, preparado, completo, no ser humano. Lembro que o Buda disse que a única coisa permanente no mundo é a mudança, lembro de Heráclito falando do rio que não pode ser cruzado duas vezes. Por que essa mania por acabar?

Um aluno sabe (ou deveria saber, mas ninguém diz para ele) que vai estudar até se aposentar. Ou vai ficar obsoleto. Vai deixar de ser um revolucionário que quer mudar algo para manter as mudanças que promoveu 20 anos antes. O que me sorpreende de verdade é que ele continua achando que está fazendo a revolução. Sei lá, Fidel Castro acha que ainda está combatendo Kennedy, lutando a Guerra Fria.

Em 2008, devemos continuar melhorando, estudando, aprendendo, porque construir um ser humano não é como construir uma casa, é como construir a Torre de Babel: o céu é o limite.

Quem acha que está acabado realmente está acabado. Acabou-se.

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