Ensaio sobre a cegueira na propaganda, parte 1.

Quem trabalha em propaganda já viu. Um cliente que acha que o seu produto é o melhor do mundo, mas vende seguro de vida. Um criativo que acha que todo mundo vai amar a sua campanha, que é perfeita só pra Archive (a revista com o nome mais pertinente da propaganda). Um planejador que acha que uma campanha no twitter vai ser um sucesso e vender um disco de platina.

Recerdo

Você acha que uma promoção de sapatos trás felicidade?

É um tipo de cegueira que impede de ver o óbvio. Há um fenômeno psicológico por trás disso: quando todas as pessoas do nosso convívio têm a mesma opinião, tendemos a acreditar que aquilo é uma verdade universal. É difícil encontrar um ateu numa comunidade Amish, e é difícil encontrar um executivo de empresa de telefonia que entenda o ódio que todos os cidadãos comuns têm à sua empresa.

Somos incapazes de ter uma visão geral do Universo, e por isso generalizamos. O problema é quando a generalização chega a um limiar no qual não vemos que há exceções gigantescas. Às vezes, a maior parte de um grupo de pessoas ou de um mercado.

Estamos tão obcecados com a comédia stand-up no twitter que esquecemos que ficar em frente de uma platéia contando piadas é algo que Zé Lezim ou Tiririca fazem há décadas.

A pergunta de 100 milhões de dólares: por que não somos capazes de ver isso? Por que achamos que somos inteligentes, mas nos comportamos como manada?

Cegueira à Nascar
Alan Wolk escreveu sobre o que ele chama de cegueira à Nascar, um fenômeno no marketing americano, no qual os anunciantes ignoravam completamente um evento esportivo que tem milhões de seguidores nos EUA.

Acontece que as grandes empresas de publicidade e propaganda dos EUA não são formadas por brancos sulistas pobres (os conhecidos rednecks). Os publicitários não convivem, não conhecem e não gostam do esporte, do público, do ambiente. E por isso ignoraram durante muitos anos o mercado.

Quando um cliente não aprova uma campanha porque não conhece ninguém que use internet, ou que prefere o jornal X porque não conhece ninguém que leia o jornal Y, trata-se do mesmo caso.

0 Comments on “Ensaio sobre a cegueira na propaganda, parte 1.”

  1. É um assunto que gera muitos debates. Um dos pontos que cito é o fato de muitos publicitários correrem apenas atrás de prêmios e esquecer do cliente. Inventam sacadinhas engraçadas e acabam esquecendo que o objetivo principal da propaganda é vender o produto do cliente.

    Estou cansado de ver propagandas de produtos eróticos ganhando festivais com apenas 1 inserção e ainda por cima de madrugada.

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