Qual é o preço da mentira?

Artigo publicado no Jornal Contraponto, de João Pessoa-PB, em 2008. Foi meu último artigo no jornal.

Não creio que aconteça frequentemente que um publicitário seja sincero com o seu cliente e diga que aquela campanha, que demorou tanto para aprovar, teve tantas alterações, tanta discussão tanto dinheiro, tanto esforço, é um lixo total, completo e absoluto.

Os publicitários, normalmente, e principalmente em mercados pequenos, são subordinados ao cliente. Os salários, as contas, o aluguel, a escola dos filhos do publicitário dependem do cliente estar contente. Por isso, comportam-se como aqueles funcionários ruins, baba-ovos de chefes: sim, esta campanha é genial. O design é lindo. E vão pro bar, dizer pros companheiros de trabalho a porcaria olímpica que a agência foi obrigada a colocar na rua.

Senhor dono de negócios, pergunte ao seu publicitário: ele estará mentindo. Exceto se tiver a certeza que a sua opinião vai ser considerada, e ele não vai ser punido por ser sincero. Mas sempre vai. Por isso, nunca ninguém diz que o Rei-cliente está nu.

Do mesmo jeito, quantos assessores não vêem o barco afundando e não contam pro chefe, com medo de contrariá-lo? É mais fácil começar a procurar outro trabalho, enquanto o barco afunda, porque é quase seguro que o fará, e deixar o chefe afundar sozinho. Quantos políticos não perderam a sua carreira por falta de um aviso na hora certa, porque a pessoa que tinha a informação não tinha coragem ou o incentivo pra dizer: “chefe, vai bater”, enquanto o Número-1 manobrava mal o carro?

E de quem é a culpa? Depende. E não interessa. Mas interessa de quem é o problema.

O publicitário que mente, dizendo que a propaganda horrível tá legal, o acessor que diz que a idéia de botar wifi na orla marítima de João Pessoa, pros turistas andarem com notebooks na praia, ou o acessor que sugere a mentecapta governadora do Alaska para candidata a vice-presidente continuarão fazendo os seus trabalhos. Quem se lasca é quem bota a cara.

O chefe que não dá espaço pra escutar críticas, ou que não escuta direito, ou não escuta as pessoas corretas. Este, por mais bem-intencionado que seja, é o que vai fazer papel de palhaço, e ficar, como comandante, no barco que afunda.

O covarde, que tem medo de dizer a verdade, de avisar a nudez real, este vai conseguir outro trabalho, e ainda vai dizer pro próximo chefe que “bem que avisou, mas ele não escutou”.

Solução? Se você é chefe, tenha gente sincera do seu lado. Eles são chatos, porque a verdade é chata. Se você é funcionário, fique calado. Exceto se o seu chefe for um gênio da raça (e poucos o são) e deixa que você expresse a sua opinião.

Li que Júlio César tinha um escravo que ficava o tempo todo ao seu lado, xingando-o e dizendo que ele era um humano, que defecava, vomitava e chorava como qualquer outro. Não sei se é verdade, mas é uma boa explicação para todas as conquistas dele.

4 Comments on “Qual é o preço da mentira?”

  1. Como você deve saber, é difícil uma pessoa querer abafar seu próprio ego.

    Se ela chegou lá em cima, deve ter lutado e se esforçado bastante. Normalmente, na subida da escadinha de importância, ele consegue mais impulso inflando seu ego, pra se sobrepor a outros tantos egos.

    Depois que tá la em cima, ele se sente mais importante que os Beatles, deixando Jesus em terceiro colocado. Desde quando uma criatura dessas vau se lembrar que é humano?

    1. Júlio César tinha lá o escravo dele, gritando que ele era um bosta o tempo todo.

      E Sao Jisuis tinha os pregos, pra lembrar que ele sangrava.

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