Ensaio sobre a cegueira na propaganda, parte 3

Marketing de telefonia: cegueira e surdez
Outro dia, estava conversando com uma amiga, executiva de telefonia, e tentava defender uma tese quase simples: ninguém gosta de operadores de telefone. Tá, soa bastante radical. Mas acho que é verdade.

Não conheço ninguém que goste de nenhuma marca de telefonia, nem do lado do Atlântico nem aqui no Mediterrâneo. Sério mesmo. Qual é a diferença entre a Vodafone, a Movistar, a TIM, a Vivo, a BCP ou a Euskatel? As ofertas e a cobertura.

A promocao mais idiota de todos os tempos

Promoção idiota para consumidores idiotas

As ofertas mudam o tempo todo, e estou careca de saber que oferta não fideliza. Cobertura não é vantagem, é desvantagem. A gente só lembra dos operadores de telefone quando eles falham, como as companhias elétricas ou de água. Ou seja, só temos experiência de marca negativas.

Fale a verdade. Você só mudou de empresa porque queria um iPhone. Ou pelo plano de dados. A marca, em si, não atrai. Não cria fãs.

E quando ela diz que quer fazer você feliz, ajudar a romper fronteiras, ou que conecta você com o mundo, dá uma sensação de marketing vazio, furado, feito empresa de seguros.

A minha amiga não consegue concordar comigo. Tem tabelas, pesquisas, dados, entrevistas, que mostram que as pessoas gostam da empresa na qual trabalha. Que possui um índice X de aprovação, que as pessoas preferem a marca dela à marca concorrente, etc, whiskas sachê.

Ela trabalha cercada de executivos, profissionais de propaganda, professores, consultores de marketing. Todos eles vivem de acreditar que as pessoas gostam da publicidade de telefonia. Acham que a própria empresa é legal. Vestem a camisa da marca. Possuem aparelhos da empresa, que nunca dão problemas, nunca precisam ligar para um call center.

São pagos para esquecer as experiências que tiveram quando eram apenas consumidores.

A maior cegueira é de quem não quer escutar opiniões diferentes
Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Se o seu plano de comunicação começa com: é óbvio que devemos usar internet, porque todo mundo usa, há algo errado. Se diz que não conhece ninguém que tenha coragem de fazer um plano de mídia sem televisão, também.

2tarrask

Meu ego grande concorda comigo.

Quanto mais perto do 100%, da unanimidade, mais próximo da cegueira e da covardia de procurar a diferença. Não fazer o que todo mundo faz, nem pensar como todo mundo pensa.

No nosso trabalho, estamos obrigados a tentar pensar diferente, a fugir do uniforme. Por isso, há uns 30 anos, os criativos começaram a usar roupas coloridas, a parar de usar gravatas e se vestirem iguais aos executivos de contas. Hoje em dia, todo mundo parece fugir de um show indie em Camden Town, beber o mesmo Starbucks e twittar sobre isso no iPhone. E também, como twittou  @mateusbarbosa dia desses, botar iPhone e Chatroulette na pasta. Como antes era fazer anúncio de página dupla com foto imensa e título engraçadinho estilo Archive, etc.

Maria Coca

Sô hype?

Publicitário até precisa entender as modas, mas quando a propaganda ficou na moda, o estilo de vida, e todo mundo começa a ser igual demais, a comunicação fica meio vazia. Ou pelo menos, não chega ao limite ao qual pode chegar, né?

Propaganda é fazer a diferença.

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